13 de novembro de 2012

KADOSHI

Por: Rafael Pereira

Mas onde o pecado abundou,
superabundou a graça;
Romanos 5.20

Há alguns dias me deparo com uma palavra muito forte: Kadoshi. Para quem não sabe essa palavra tem origem no hebraico e significa santo ou algo separado para uso exclusivo de Deus.
No dia 21 de Outubro de 2012 fui “separado”, na cidade de Ituitaba em Minas Gerais fui consagrado e recebi a unção para o ministério pastoral. Não tenho palavras para descrever o que senti naquele momento, só sei que fui arrebatado de mim e chorei como uma criança. Como escrevi no meu facebook: foi o dia mais importante da minha vida. Assim como Maria, a mãe de Jesus, reafirmei o meu sim a Deus, muito feliz por ele ter me escolhido. Fui consagrado e ungido ao ministério pastoral. Que Deus me mantenha firme ao meu chamado, para que eu possa cada vez mais ser digno e exercer com zelo a minha vocação. O pastor nada mais é que o menor dos empregados, pois sua função é servir. Lembrei muito da minha mãe, o sonho dela era que eu fosse padre, mas Deus me direcionou para uma outra obra de igual importância, o zelo em servir e cuidar de vidas, direcionando-os ao reino de Deus.
Nunca escrevi sobre isso, mas vou relatar algo tremendo prá vocês e fica um exemplo que no momento certo as promessas de Deus se cumprirão na sua vida.
Entre os meses de Abril, Maio e Junho do ano 2000 me peguei numa situação muito difícil, desde o final do ano anterior (1999) meu pai vinha perdendo peso muito rápido e estava anêmico, não sabíamos o que era e ele relutava muito em ir ao médico, mas após se submeter a uma bateria de exames veio o diagnóstico: ele estava com um nódulo no intestino e todas as vezes que ele ia ao banheiro para fazer suas necessidades de excreção biológica sangrava. Ficamos apavorados quando nos disseram que ele teria de ser submetido a uma cirurgia e que, devido a sua idade, 69 anos, era muito arriscada e seriam poucas as suas chances de sobrevivência. Eu estava com 15, quase 16 anos, estava estudando pois queria ser padre. Imagina o impacto desta notícia para uma pessoa desta idade. Fiquei chocado, sofri, chorei, mas nunca me desesperei, nem deixei de acreditar em Deus e no seu poder.
Não esqueço quando meu pai saiu de casa com lágrimas nos olhos me dizendo: “Meu filho! Seu pai já vai e não sabe se volta. Mas se eu não voltar, seja homem! Cuide bem da casa, de sua mãe e das nossas coisas”. Me lembrou de uma maneira diferente as instruções do Rei Davi ao seu filho Salomão antes de partir, está em 1 Reis 2.1-2: “E APROXIMARAM-SE os dias da morte de Davi; e deu ele ordem a Salomão, seu filho, dizendo: Eu vou pelo caminho de toda a terra; esforça-te, pois, e sê homem”. E ali o papai partiu rumo à Fortaleza com os olhos marejados para fazer a operação e eu chorei muito não só com tamanha responsabilidade, mas pelo fato de não mais tê-lo por perto e lá no fundo eu sentia medo, pela possibilidade de perdê-lo.
Várias pessoas inclusive da minha família diziam que o papai não sairia vivo, mas eu sempre dizia que confiava em Deus e que só ele determinava sobre a vida do meu pai. Aquela casa que outrora estava tão cheia de gente, de amigos, de outros amigos músicos que tocaram comigo na banda que eu tinha, de parentes e familiares resumia-se agora em minha mãe e eu. Na hora de nos ajudar ninguém o fazia, mas na hora de criticar ninguém sabia ou parece que fingia que não sabia a situação delicada que enfrentávamos. Todas as noites eu fazia as minhas orações e lia a Bíblia Sagrada. Até que numa tarde minha mãe me disse que eu estava muito abatido e que precisava dormir, respondi a ela que não estava conseguindo pois pensava muito no meu pai, ela novamente me tenta convencer até que, sentado numa rede sinto uma leve brisa soprando no meu rosto, não entendi o porque daquela brisa, haja vista o nosso quarto que era fechado e ficava distante da janela da sala e ali fui tombando para trás e dormi. Enquanto estava adormecido tive uma revelação, iriam dar 18:00 horas da noite e eu ouvia alguém bater na porta da nossa casa e quando eu a abro estava diante de mim um anjo alto e muito bonito e reparei que na altura do seu peito havia uma cruz vermelha como essas das ambulância e ele me dizia: “ Rafael, o mestre está aí e ele quer falar contigo”. E eu perguntava: “Quem? O mestre? Não, não, não... Eu não sou digno de estar diante dele, não posso ir ver ele porque sou pecador, não vou não”! Nesse momento eu me distraí, olhei para trás pois era como se houvesse um vulto por trás de mim, foi nesse momento que olhei para o relógio e vi que horas eram, como  já disse iriam dar 18:00 horas da noite, então na frente da minha casa caiu um raio bem forte e o anjo desapareceu, assustado corri para um beco quase ao lado da nossa casa e eis que vem surgindo e caminhando na minha direção Jesus! Quando ele andava parecia que flutuava e me disse: “A PAZ ESTEJA CONTIGO”! Não me achei digno de olhar para o seu rosto nem de fitar seus olhos, mas respondi: “Mestre”! Só pelo tom de voz eu sabia que era ele. Então me perguntou: “O que te aflige tanto, meu filho”? Ainda de cabeça baixa e ajoelhado lhe respondi: “Senhor, é o meu pai! Ele está tão doente, ando tão preocupado com ele, muita gente dizendo que ele não sobreviverá a operação”. E ele me respondeu que o mal do meu pai não era físico e sim espiritual, mas pediu para eu não me preocupar pois já havia resolvido o problema! Mas eu como Tomé me cheguei a ele e em prantos disse: “Senhor, eu não quero que os médicos operem meu pai, mas que seja o Senhor segurando nas mãos deles. Se o Senhor fizer isso eu sei que vai ficar tudo bem”! E ele me disse prá não me preocupar pois o meu pai já estava curado! Chorando lhe agradeci muito e ele me deu uma ordem: “Existem muitas moradas na casa do meu pai, existe muitas maneiras de você me servir! Agora vai e apascenta as minhas ovelhas”!
Eu sempre fui muito namorador e o meu pai vivia dizendo que se era para eu ser um mal padre que eu fosse um bom pai de família.
Nunca esqueci essa ordem que o Senhor me deu: de ir e apascentar as suas ovelhas. Quando eu acordo era praticamente o mesmo tempo que estava vivendo naquela revelação. O relógio marcava pouco tempo depois. E naquela mesma noite o hospital nos liga e quando eu atendo o telefonema sou informado que o meu pai havia sido operado e sua cirurgia tinha sido um sucesso, ele estava reagindo muito bem.
Depois de tudo isto façam os cálculos e vejam quantos anos passaram para que a ordem e para que a promessa do Senhor fosse manifesta e cumprida em minha. Sabe quanto tempo? 12 anos. Apesar de tantas coisas ruins que fiz, apesar de durante muito tempo não estar em comunhão com ele, fui alcançado pelo seu amor e por sua misericórdia.
Apesar de já ter escrito sobre isso novamente vem à tona aquele assunto do quanto nos achamos pequenos. E louvo a Deus por isso em minha vida! Quero continuar me achando pequeno, pois é isso que eu sou. Grande em mim só o que o Senhor tem feito. Me vi com a minha esposa sentado no meio dos grandes; homens sábios, com mais conhecimento de Bíblia que eu, com mais tempo de ministério que eu, alguns evangélicos desde criança. Imaginem aí: Eu, vindo de um estado onde as pessoas têm muito preconceito, o Ceará, de uma cidade longínqua e pequena, Aracati, sendo o menor na minha família. Talvez tenha sentido na pele o que Gideão sentiu quando o anjo do Senhor foi designar sobre a sua missão. E justamente ali estava alguém que iria ser consagrado e ungido ao ministério pastoral, sendo o mais novo em idade, em tempo de fé e talvez até em experiências. Agora percebo por que Jeremias se colocou como apenas uma criança ao receber o chamado para exercer a sua vocação.
Confesso que quando houve o desejo no meu coração e a confirmação de Deus fiquei com medo. Mas louvo a Deus pela fé que tenho, uma fé que me permite questionar, uma fé que algumas vezes me permite o medo, mas que em tudo é compensado pela esperança que me traz, pelo amor que aumenta por Deus e por sua obra nos serviço aos irmãos, uma fé que mesmo em meio às tempestades não se abala.
Ah, amados! Como é bom ver se cumprir as promessas de Deus na sua vida. Como é bom saber que apesar de algumas pessoas não terem acreditado no nosso ministério ou nas obras que Deus tem para as nossas vidas que ele não desistiu e acredita em mim.
Quero ser separado sim, não do mundo (pois ainda estou nele), nem do meio das pessoas (Jesus nos chamou para sermos sal da terra e luz do mundo). Quero ser separado do pecado, pois ele separa o homem de Deus, quero ser separado de tudo aquilo que venha me prejudicar ou ao meu irmão. Quero ser separado da hipocrisia, da falsa religiosidade, da arrogância, da prepotência, da superficialidade da fé e principalmente de um mal que tem abatido o nosso povo: a santarrice e o farisaísmo.   
Quero aprender com os irmãos à imagem e semelhança de Jesus que são simples e humildes de coração, quero aprender mais com Robério Paixão, com o Ir. Claudemir da Árvore de Zaqueu, com a irmã Ivana, com a irmã Maria do Carmo e com o irmão Mauro. Quero aprender com Davi Ribeiro, Régis e tantos outros.  O evangelho se faz e foi construído à base da simplicidade. Jesus poderia ter escolhido em sua época as maiores autoridades em Bíblia: Os doutores da lei; Fariseus, Rabinos, mas chamou em sua totalidade, donas de casa, prostitutas, adúlteras, ladrões, mentirosos e pescadores que mais tarde ele transformou em pescadores de homens, Mas o que é comum a toda essa gente é que todos foram impactados após terem um encontro e seguirem a Jesus.
Quero tão somente hoje dizer a Deus: Eis-me aqui! Faça-se em mim segundo a tua vontade! Quero tão somente a ele dizer: Dá-me um coração igual ao teu, meu mestre! E que cada vez mais eu seja digno da vocação a que fui chamado. Cumprindo IDE de Jesus para apascentar o mundo!
Em Cristo,
Rafael Pereira

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